Aventureiro

Olá , todos que se interessarem por este blog, sejam benvindos! Estou relatando fatos da minha vida e espero que gostem, obrigado!

sábado, 11 de dezembro de 2010

o Iníco






Nunca pensei em escrever memórias, abre minha vida particular a outras pessoas, mas hoje eu sinto necessidade de desabafar e  o melhor jeito que encontrei foi escrever. Eis meu "diário de bordo" após 7 anos viajando pelo mundo, conto tudo o que aconteceu nas minhas viajens  pelo mundo, confira!











Diário de bordo, dia incerto, local estranho e ano desconhecido.
 Onde estou? Não faço ideia, não sei que lugar é este ,quem são estas pessoas, cidade, costumes, trajes e época. De uma coisa estou certo: Estou numa fuga  dos meus problemas , do passado,do futuro, medo das sombras, das lembranças, das feridas.... fujo de mim mesmo.....de você também!
Não quero pensar na saudade, dos amores que vivi e o último que ainda me faz sofrer..... por que fui amar você?!
Já me disseram que amar é uma grande estupidez e nós tínhamos tudo para dar errado e assim foi depois de longos 07 anos ......abriu-se um grande desfiladeiro entre nós.... sombras ,distância, ciúmes, desconfianças, inseguranças... tudo de ruim que o amor traz quando estar por terminar.
Mas os sete anos foram todos ruins? Não, claro que não! Vivemos um amor novo, de descobertas, um desejo contido, prometido por 02 anos anteriores, sufocado... nem sabíamos se um dia iria acontecer, mas aconteceu. Forte, zeloso, audacioso, cheio de magia e tesão, fugas , um belo romance....
Hoje, depois de tanto tempo, ainda não consigo esquecer você! Daria parte de mim se um dia eu pudesse não lembrar de você, só um dia. Todos e tudo me lembra você: uma música, uma cena de amor feliz ou uma briga, mas ninguém preenche  o vazio que você deixou. Ninguém tem o seu sabor, seu perfume, sua pele, seu toque, o desejo que sentíamos um pelo outro
Por isso vago, caminho sem destino, sem agenda , porta retratos, celular, vou a lugares onde nunca estivemos para não ter chances de lembrar de você, como se isso fosse possível...
Me pergunto contra vontade:
Onde você está? Como tem vivido, está bem?
Pensa em mim? Como são seus dias.....
Acho impossível ter esquecido tudo que vivemos, nossas juras e promessas...
Como  queria ser mais forte também, poder disfarçar e sufocar tudo isso dentro do peito .....
Não ser tão romântico, alimentando ilusões e desfiando lágrimas perdidas  pelo tempo
Ah isso doe, doe muito pensar se um dia eu vou te  ver e se,(se) odeio esta palavra....!!!*#!!!




Diário de bordo, estou  em outro  lugar agora mas já é noite. Nem acredito que consegui dormir e não sonhei. Sair as ruas nem pensar, são tantos casais passando de mãos dadas que sinto inveja( tudo de ruim @#@!#@#)  e nunca gostei desta palavra  mas devo confessar que gostaria de estar segurando a sua agora...




Há tantas pessoas felizes nas ruas, dia dos namorados?! È o dia que mais quero morrer, não ver ninguém, sumir  do planeta....ah um dia isso passa, tenho fé!
Só entre nós dois (tá f... esperar passar!), mas vamos lá, com o disse o poeta: “o tempo não para!” Vou me abrigar da chuva depois escrevo mais.




Diário de bordo está numa cidade legal, calma, sem agitações e arrumei um emprego. Sim, emprego, às vezes preciso de dinheiro. Vou trabalhar num barzinho à noite, tocar violão e cantar blues, rock, estas coisas que as pessoas gostam de escutar quando comem e bebem.



Tá chegando a hora da estreia, to nervoso, depois de tanto tempo sem cantar espero não desafinar muito e lembrar todas as letras. Minha dificuldade sempre foi  música brasileira( em português ), rsrsrsr.... O repertório está a minha vontade ou se alguém pedir alguma coisa que eu saiba tocar e cantar,. Bom amanhã eu volto e conto tudo.





Diário de bordo que ressaca!!!!! Acordei agora ou melhor acho que nem dormi, estou anestesiado de ontem... muitas emoções, vocês querem saber o que  aconteceu ontem?
Primeiro eu vou deixar bem claro que só aceitei este emprego porque estava precisando de dinheiro, estou avesso aglomerações, público, chamar atenção. Estou com visual novo, meio cabeludo ( mas um corte moderno, nada de assustar ) e barba por fazer, isso me deu um charme. Mas não quero chamar muito atenção. Estava na rodoviária desta cidade pensando o que fazer ou para onde ir, distraidamente puxei alguns acordes do meu violão, meu fiel companheiro. Alguém passou e gostou do meu som e em poucos minutos, sem eu dar conta, havia umas quinze pessoas escutando.... fiz menção de parar, envergonhado, mas pediram que eu continuasse. Ganhei o café da manhã , almoço e de quebra  o emprego. Parece que o casal que cantava no restaurante teve uma proposta melhor e o estabelecimento estava sem ”cover artístico e eis eu aqui: “ o artista”. 
Comecei tocando o que melhor sabia: MPB, anos 80, bossa nova,  nada muito meloso, tentei dar ritmo jovem e alegre. Não queria tocar as nossas canções, as nossas preferidas, será  que ninguém iria pedir???





Tudo corria bem, até alguns casais começaram a dançar, o dono do estabelecimento veio me elogiar, o local estava cheio e as pessoas consumindo mais, quando passei para ir ao banheiro, num breve intervalo, escutei alguém falando no celular, fazendo um convite para alguém, dizendo que havia “um cara mandando ver no violão”....  dei um sorriso, na volta fui abordado por uma bela garota, olhos verde grandes, bem descolada, me pediu um canção.
Não foi só uma canção, foi a nossa canção!!!: aquela que sempre cantávamos eu fazendo a 1ª voz e você a segunda.....  fiquei sem reação, talvez eu  imaginasse que ninguém iria lembrar, mal acabava uma música e eu emendava na outra justamente para não dar espaço para pedidos. Fiquei sem jeito, sem reação, sem voz, o dono do estabelecimento percebendo o meu embaraço veio ao meu encontro, era uma conhecida da filha dele da faculdade. Subi no pequeno palco, limpei a voz e por um momento hesitei e todas as lembranças vieram forte como uma chuva de verão .....
Todos embaixo me olhavam, esperando,  pois a garota era popular e  fez o favor de avisar a todos que iria cantar a canção. Amigos, amanhã eu termino de contar, tenho que me refazer das emoções.
É, voltei, estou aqui revivendo todo o meu passado e traduzindo em música. Fiz o meu melhor, cantei, abri minha alma em notas baixas, no tom, em graves, agudos médios e falsos falsetes.... murmurei amor, transbordei lágrimas, dei toda emoção que a canção pedia e a plateia  em êxtase aplaudiu por minutos, abaixei minha cabeça e lágrimas rolaram..... Por sorte a luz se apagou, tive tempo para me refazer.





Não é difícil cantar desta canção; é difícil falar deste amor que essa canção simboliza. E outras canções foram sendo pedidas e quando me dei conta já passa das seis da manhã. No final, o dono do estabelecimento veio me agradecer, o movimento do caixa não tinha parado, . Iria cantar todas as sextas, sábados e domingos. Ah, ganhei um adiantamento, isso valeu a pena!
Mas  como é falar de coisas de açoita  o coração e tudo que você gostaria de esquecer e alguém  te faz sempre  lembrar? Volto amanhã para falar do segundo  “ show”.
Diário de bordo,  ainda estou na mesma cidade e acho que vou ficar algum tempo por aqui, preciso juntar um pouco de dinheiro. Fiz diferente hoje, cantei os hits internacionais, mas na linha romântica, um pouco NEW AGE e pop Rock, fiz o povo dançar um pouco. Reparei que o grupo de hoje era mais jovem e a aquela garota estava lá, bem na frente e fazia questão que eu a visse.
Recebi muitos bilhetinhos pedindo músicas, e algumas delas nunca houve falar mas tudo bem, pior quando elas ou eles tentar cantar para eu entender... rsrsrsrr  faz parte!!!
 Disfarcei em não perceber cantadas e piscadelas, bebidas pagas... . tudo  ignorado por mim, melhor evitar  este tipo de aproximação. Não é que aquela garota fez menção em falar comigo de novo?  Desta vez não dei oportunidade, emendada uma música na outra e nos intervalos me trancava no banheiro. Quase no final ela jogou um beijo e riu quando toquei “ I’ll be there “, parece que gostava muito desta. No final toquei uns clássicos da MPB, agradeci e dei por encerrado a longa noite.





Diário de bordo,  estou no meu quarto na pensão, descansando e pensando nos últimos dias, estou ficando muito tempo nesta cidade, mesmas pessoas quase todos os dias, tudo contrário que havia planejado, mas preciso de dinheiro...  E a minha vida passa por meus olhos, mesmo fechados, as cenas são claras e recentes e a dor no peito começa  a incomodar.
  Muitos deles já se acham íntimos, perguntando sobre minha vida, carreira, família. Sempre desconverso. Tenho certeza que devo sair desta cidade. Vou esperar completar apenas um mês e sair sem destino. A  dona da pensão que eu me escondo é muito simpática, acolhedora, tipo” maizona”? me deixa a vontade e percebeu que não gosto de falar de mim mesmo. Sempre faz algo gostoso e deixa para mim, não importa a hora que eu chegue, ela sempre aparece com algo para comer. Isso eu vou sentir falta.
Um dia ela me disse que seu filho tinha ido para cidade grande tentar a vida e se envolveu com coisas erradas e morreu no mundo das drogas. Só tinha ele de filho e era viúva, jovem ainda nunca mais quis saber do amor.
Pensei na minha própria vida, também não quero saber de amor, me sinto viúvo, órfão, solitário.
Diário de bordo,  estou de novo no palco, cantando músicas, vivendo sonhos e embalando casais de namorados.  Não dá para fugir dos temas românticos... .temas de novelas... . Como estes clichês fazem sucesso! Hoje estou completando 01 mês de trabalho e nem acredito que fiquei este tempo todo aqui, cada noite era uma história diferente, quase pessoas diferentes mas para mim era tudo indiferente, só pensava no dinheiro, meu foco era acordar amanhã em outra cidade, longe de tudo e de todos....clandestino mesmo.
Hoje, passando pelo  parque, onde as vezes eu paro e fico observando a natureza , vi um  jornal  dobrado. Peguei  e para minha surpresa era do dia, alguém distraidamente o esqueceu ou largou mesmo para sujar a cidade. Na parte de classificados esta ofertas de emprego e uma delas me chamou muito a atenção: “Trabalhe e se divirta num cruzeiro pelo mundo”! Pow, adorei a ideia, viajar para bem longe, trabalhar, conhecer culturas..... era bom demais, tudo que eu precisava! Um único detalhe: saber falar Inglês, coisa que gostava muito de fazer e principalmente cantava muito neste idioma, tenho um bom domínio. Sem falar no espanhol e italiano que sempre tive contato pelos trabalhos  anteriores. Vou fazer a inscrição, amanhã eu conto  o que aconteceu.




A manhã estava bonita, nada de nuvem no céu, era primavera, calor, sol e poucos ventos. Talvez minha sorte esteja mudando, vou me deixar levar ao sabor do vento. Havia poucas pessoas na fila de inscrição. Fiz a primeira  etapa, preenchi a inscrição e aguardei em outra sala. Em pouco tempo fui chamada pela psicóloga para segunda fase da entrevista, perguntas básicas e óbvias, domínio do idioma, etc. A tarde iria  fazer  teste com o capitão do navio, não entendi bem  o porque mas tudo bem.
Cheguei na hora marcada e na sala não havia ninguém, depois de 10 minutos chegou o capitão e um auxiliar. Passou um vídeo da rotina a bordo, cabines, funções, tipos de passageiros e rotas. E por fim, fiz uma conversação em Inglês e algumas perguntas em italiano e outras frases de francês, tudo bem e fui aprovado. O salário não era a quinta maravilha do mundo mas para mim era suficiente e ainda poderia conhecer vários lugares e continuar minha jornada, meu auto conhecimento e superação.De hoje até o embarque eu tenho apenas um mês  para arrumar minhas coisas e documentações, passaportes, comprar algumas roupas para inverno, remédios... Gente vou dar uma parada , tenho muitas coisas para arrumar, escrevo depois.
Diário de bordo, hoje eu abri meu show diferente: era o meu último dia. Deu para acumular uma certa quantia e estava na hora de procurar novas coisas e lugares. Só quem sabia da minha partida era a dona da pensão e a ela fiz um convite especial para assistir minha apresentação. Para minha surpresa ela aceitou e foi uma das primeiras a chegar e sentou-se bem na frente. O tempo havia mudado de repente, uma brisa fresca percorreu  meu corpo, senti um pouco de frio, apesar do calor da multidão dentro do restaurante. Hoje também era uma data especial para o dono do estabelecimento, era aniversário de casamento e ele pela primeira vez solicitou músicas mais românticas. Justo e natural, concordei. Vi então sua esposa, filhas e filhos, genros e noras, netos na plateia. Havia preparado algo especial  e não desapontá-los.
Comecei cantando: ‘ eu sei que vou te amar ‘, aplausos e lágrimas, assobios, ovação! Eu sempre gostei de cantar esta música e dei uma interpretação acústica, bem perto do cantor original. E continuei com mais músicas românticas, inclusive o tema do Guarda costa, Titanic, cantei também algumas em italiano, pois a família dele era italiana de origem: Dio comi te amo, Per amoré, Il nostro amoré, amore per te.....Todos boquiabertos, nunca tinha cantado uma música em italiano naquele local. No breve intervalo  ao ir no toalete, fui elogiado pelo meu italiano, resultado de 5 anos trabalhando com italianos.




Ao voltar vi as crianças, pedi licença para cantar algumas músicas infantis, lembrei-me dos meus sobrinhos quando cantava para eles. Escolhi temas da Disney: tema de Aladim, a Bela e a Fera e por último o tema do Rei Leão. Uma das crianças veio até a mim e me beijou  o rosto, agradecendo a música que gostava tanto.
Retomei minha programação, continuei cantando alguns clássicos da MPB no estilo extremamente romântico , muitos casais dançavam, beijavam-se, ouvi e vi juras de amor, renovação de compromissos. A esposa do dono do restaurante se emocionou várias vezes e a dona de pensão, como outras pessoas também chegaram as lágrimas as vezes entre uma música e outra . Volto amanhã e conto como terminou a noite.
Já era bem tarde mas  o povo não queria ir embora. Não sei se me sentia aliviado ou preocupado. Apesar da minha voz estar totalmente limpa, as emoções contidas, não me permitir lembrar das minhas próprias emoções, fui outra pessoa hoje, apesar de cantar com emoção, interpretar, minhas lágrimas estavam ‘presas’ em algum lugar. Meu violão ‘chorava a cada melodia, cada acorde, cada música, as vezes só era eu e a minha voz, fiz carinhos nele , nunca tocamos tanto  o amor e a sua dor.
Anunciei a última canção, de meu gosto próprio e tudo a ver com a noite e o casal homenageado, seria uma canção da banda Roxette, uma música também tema de um filme de sucesso: “ It must have  been Love”. Antes mesmo de cantar recebi aplausos. Achei engraçado, era  minha música secreta.
Cantei cada nota, e o som não vinha dos meus pulmões, diafragma, e sim do coração. Um grande silêncio se formou quando eu terminei, levantei e agradeci. Ninguém aplaudiu, me perguntei: será que eles não gostaram? Então veio o o coro:
Bis! Bis!! Bis!!! Mais um !!!!!!!!
Só nesta hora me dei conta que realmente eu era um cantor de verdade.  E então cantei uma música de paz e fé, independente de religião. Cantei “I believe I can fly”, e no final disse:
Acreditem nos seus sonhos. E este foi o meu último show, muitos me elogiando, querendo me abraçar, pagar uma bebida e até um cachê extra o dono do local me entregou quando estava saindo. Agradeceu-me muito por ter proporcionado uma noite inesquecível para sua família.Deu um nó na garganta e ele nem sabia que não estaria no outro dia ali.
Gente, esta foi a primeira temporada ou fase das minhas experiências, quando eu estiver embarcado, que vai ser amanhã, eu conto tudo, ok?
 Em algum lugar, 21 de novembro de 2010.




Anselmo silvestre